Acordou cedo, madrugada fria na cidade de São Paulo. A esposa já havia levantado e o cheiro doce de café enchia o barraco. José era seu nome. Mas poderia ser também Paulo, João ou Pedro. José, era mais um nordestino que deixara sua terra natal em busca de planos e sonhos. Senta-se a mesa a esposa serve-lhe o café e um pedaço de pão.
- Tem margarina não mulher?
- Tem só um pouco Zé, mas deixa pro Zezinho.
Ele olha pro filho dormindo num colchão que dias antes ele mesmo catara na rua.
- Vou-me embora mulher! Cuida do nosso filho.Não se preocupe que o dia de hoje não vai passar em branco Estou com fé em deus que a coleta vai ser boa.
Na frente do barraco um carrinho feito com carcaça de geladeira.
- Vamos embora Péduro!
Um cachorro vira-lata de pelo marrom pula para dentro do carrinho. Tempos atrás ele tinha achado o cachorro na rua com uma pata machucada. Por conta disso mancava e ganhou, do filho de José, o nome de Péduro. E lá se foi José. No peito a esperança de encher seu carrinho.No final do dia venderia o material na cooperativa
- Vou te falar uma coisa Péduro. Subir essa ladeira nesses dias de frio é duro. O ar ta muito seco. Ta vendo aquela nuvem cinza em cima dos prédios? É poluição. Toda a fumaça que sai dos carros, motos, caminhões fica acumulada. Outro dia, ouvi no rádio,o nome é inversão térmica.A fumaça não sobe e causa isso. Ouvi também, que existem cidades em que essa inversão térmica é tão grande que as pessoas têm que sair de casa usando máscara. Eu acho que logo, logo aqui vai ser assim também. Ufa! Conseguimos subir!Na volta a gente se diverte.
Passava quase sempre pelos mesmos lugares.Entra em uma rua estreita somente de casas. De porta em porta vai coletando material.
- Ta vendo Péduro? Aqui as pessoas têm um pouco de consciência.Deixam o lixo separado. Assim é mais fácil. Muito material não é reciclado por falta de coleta adequada. Se as pessoas não separam, o material vai todo pro lixão aumentar a poluição da cidade. Vamos ver o que tem aqui. Garrafas, papelão, opa! Olha só Péduro! Um saco cheio de latinhas!!Que bom!! – balançando o saco fazendo as latinhas tilintarem - Tem umas pilhas aqui...Ninguém deveria jogar pilhas no lixo. É perigoso. As pilhas possuem vários metais que contaminam o solo.Vou levar essas pilhas para a cooperativa, lá eles dão um destino adequado. O certo mesmo, seria as pessoas levarem as pilhas nos pontos de coleta. As lojas que vendem essas coisas têm obrigação de recebê-las volta.
E assim ele seguia , enchendo seu carrinho e conversando com o pequeno Péduro. Mais uma rua, mais material para coletar.
- Nessa rua aqui Péduro, os moradores não separam o lixo.
Parou em frente a uma casa e começou a mexer nos sacos separando o que poderia ser reciclado. O portão da casa se abre e sai um sr. muito irritado já chega gritando com José.
- O QUE É VOCÊ ESTA FAZENDO AÍ? QUE ESTORIA É ESSA DE MEXER NO MEU LIXO? OLHA SÓ A SUJEIRA!!
Não era a primeira vez que alguém o tratava assim. Na verdade já estava acostumado com esse tipo de atitude. Olha para o Péduro, faz uma cara de quem diz “tá vendo”?
- Olha moço. O sr. não se preocupe que a sujeira eu vou limpar.E me desculpe por mexer no seu lixo. Mas sabe o que é... esse é o meu trabalho.Ando pela cidade ajudando a preservar o meio ambiente. As pessoas acham que nos catadores só sujamos as ruas ou atrapalhamos o trânsito. Não é verdade.Veja só. Estou com meu carrinho quase cheio. Todo esse material que eu recolhi não vai voltar para a natureza. Nem poluir rios. Vai evitar que arvores sejam derrubadas. Essas garrafas plásticas por exemplo. O sr. sabia que o plástico demora mais de cem anos para se decompor na natureza?Essas aqui que eu catei no seu lixo vão ter outro destino. Serão recicladas e se transformarão em matéria prima para vários produtos.
O homem, meio sem jeito, olha para José, no semblante um misto de surpresa e admiração.
- Como é o seu nome?
- José.
- Me desculpe José, pela maneira como te tratei. A partir de hoje vou separar o lixo.
- Não tem o que desculpar.Só em separar o lixo para mim já ta bom.Assim estará ajudando não só a mim mais a cidade toda.
Despediu-se do dono da casa e seguiu pela rua fazendo o seu trabalho.Estava passando por uma avenida mais movimentada levou um susto com a buzina de um carro.Uma dessas camionetes grandes de vidro fumê, aros reluzentes. O motorista grita pela janela.
- SAI DO MEIO DA RUA SEU IDIOTA!!
José pára ,se recupera do susto e segue em frente. O dia fora bom o carrinho estava cheio achou um caminhãozinho de brinquedo que guardou com cuidado.
- Vamos lá Péduro! Vamos descer essa ladeira!
Ia pulando ladeira abaixo, a cada passo era como se flutua-se no ar apoiando-se no carrinho. Vendeu o material.Passou na padaria comprou margarina, um pequeno bolo e suco.Ao chegar beijou a esposa, deu o caminhãozinho ao filho e festejaram. Era aniversário do Zezinho. Em baixo da mesa Péduro abanava o rabo e comia seu pedaço de bolo.O dia em fim não passaria em branco.
Salve , Salve meus amigos!!! Criei esse Blog inicialmente para divulgar meu primeiro livro Papo Verídico, mas agora quero dar um novo rumo ao Blog, com novas postagens e crônicas novas. O humor, como no meu livro, continuará sendo o mote principal, porém me arriscarei por outras veredas, espero que gostem. Um escritor sem leitores não existe. Como diz Airton Monte, um grande poeta de minha terra “ O escritor sem leitores é como uma planta sem água, seca, definha” Um forte abraço. Lu Fontenele.
Quem sou eu
- Lu Fontenele
- Administrador por profissão Um cearense como tantos outros que deixaram a boa terrinha para ganhar a vida em São Paulo. Bem humorado como todo cabeça chata.
Um comentário:
eu já tinha lido esse seu texto,eu me lembro dele... muito bom!
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